terça-feira, 29 de março de 2011

EXISTE ESPAÇO PARA CULTURA POPULAR?

Em passagem pelo estado de Pernambuco me deparei com uma cena que me fez pensar neste questionamento: "Existe espaço para cultura popular?". Estava eu curtindo minha merecida semana de férias em Porto de Galinhas quando vejo dois repentistas andando em um sol escaldante parando de guarda-sol em guarda-sol fazendo seus versos para turistas em busca da subsistência. Percebe-se rapidamente que este ambiente não é o mais saudável e que estes artistas não estão utilizando vestimentas condizentes com a temperatura que estão enfrentando. Mas estão ali. Com a impressão que aquela praia paradisíaca é o melhor local para que eles se insiram neste mercado cultural ou talvez nem pensem nisso, só visualizem que ali é o espaço que restou com a capacidade de fornecer a eles o dinheiro para sustentar suas famílias. 
Mas observando esta cena  me pergunto se isto é correto. Me pergunto sobre as consequências de fatos como este. Percebo que o atual discurso da sustentabilidade ambiental tão em voga em nossa sociedade precisa urgentemente ser transpostado para a cultura popular de nosso país, mais precisamente do nosso nordeste. Será que as futuras gerações irão conhecer o REPENTE, a LITERATURA DE CORDEL, o SAMBA DE RODA, o FORRÓ PÉ-DE-SERRA, ou estas riquezas serão esquecidas através dos tempos.
Precisamos urgentemente criar a Lista dos Gêneros da Cultura em Sério Perigo de Extinção. Se as autoridades do nosso país continuarem fingindo que nada está acontecendo,  se não blindarmos e multiplicarmos as poucas festividades diretamente relacionadas com a cultura popular para que estes gêneros autênticos não percam seus poucos espaços existentes e possam ser apreciados e conhecidos por nossos jovens e se não dermos a estes guerreiros que insistem nesta linda porém árdua causa a oportunidade de sobreviver dignamente já podemos declarar o fim da Cultura Popular.

BULE BULE EM PERNAMBUCO


Entre os dias 12 e 13 de março de 2011 o grande mestre Bule Bule esteve em solo pernambucano para lançar seu mais novo CD de repente em parceria com a repentista pernambucana Mocinha de Passira com o título Simples como a Natureza. Venho escrever algumas palavras não sobre a qualidade do trabalho deste renomado artista e também não pretendo tecer exagerados elogios, pois não quero ser mal interpretado pela minha certa proximidade com o referido repentista. Quero falar sobre o empreendedorismo de um batalhador da cultura popular que ao compor, cantar, produzir e lançar mais um CD de um estilo musical que corre sério risco de extinção da aula aos mais renomados profissionais
da produção cultural.

Inicialmente destaco as suas primeiras ações publicitárias. O homem nem acabou de aterrizar em território pernambucano e já começou a se articular com seus contatos locais (acredite, este ser humano tem amigos em praticamente todos os lugares). Após importante contato com renomada casa de Cds da região do grande Recife, a PASSA DISCO, consegui fazer com que este homem descansasse lembrando a ele das suas atuais condições de saúde (apesar da idade e de alguns probleminhas de saúde é díficil fazer este sujeito ficar parado).

Na manhã do dia seguinte, o dia do esperado evento de lançamento do seu segundo CD em parceria com a Cantatriz Mocinha de Passira surge em matéria de destaque em importante jornal de circulação no estado, o Jornal do Commércio, uma matéria que além de divulgar o referido evento traz um interessante depoimento do mestre Bule Bule sobre a Cultura Popular na terra do Axé, dentre outros assuntos interessantíssimos, mostrando mais uma vez que o repentista em questão é muito mais que um repentista.

Ainda na manhã do domingo o poeta (mais uma vez utlizando da sua interminável lista de contatos) nos direcionou ao tradicional Mercado da Madalena. Lá montamos a nossa banca móvel com os Cds e Livros do Mestre e deu-se início a uma curta e interessante apresentação.

Depois de muitas chulas, repentes e causos contados a um público pequeno em quantidade, porém grande em apreciação da cultura popular o nosso Bule Bule se dirigiu ao Restaurante Nosso Quintal para o Pé-de-parede, ou melhor, para a cantoria de lançamento do novo CD.



Com a casa lotada aconteceu a Cantoria com a participação de outros repentistas, contadores de causos, amigos, familiares, enfim o CD Simples como a Natureza teve em seu lançamento a simplicidade da rica cultura popular nordestina .
 
Infelizmente são muitos os sinais da fragiliade da cultura popular frente ao injusto cenário cultural do nosso país. Vale salientar que avanços ocorreram nos últimos anos, porém são praticamente invísiveis visto que as injustiças impostas por este mercado cultural que mais se assemelha a lei da selva onde sempre os mais fortes (leia-se mais ricos e mais poderosos) destroem os mais fracos, isso fica claro quando renomados artistas tem seus projetos milionários financiados com dinheiro público. Esta conjuntura obriga que os segmentos que não estão e não serão representados inventem maneiras, vamos dizer empreendedoras, para conseguirem sobreviver em nossa atualidade. 

Este é o nosso Bule Bule repentista, cordelista, sambador, ator... e empreendedor da cultura popular!